O déficit em conta corrente do Brasil alcançou 75,3 bilhões de dólares nos 12 meses até julho, equivalente a 3,5% do PIB. O movimento representa uma deterioração expressiva em relação ao início de 2024, quando a razão estava em 1,1% do PIB. A principal contribuição veio do aumento das importações na balança de bens e serviços, que passaram de 15,4% para 18,2% do PIB no período.
É importante ressaltar que déficits em conta corrente não são, por definição, problemáticos. Muitos países recorrem à poupança externa de forma recorrente para financiar investimentos, e no caso brasileiro essa tem sido a norma desde 2008, sem impedir que a situação externa fosse considerada “confortável” em grande parte do tempo.
A diferença atual é que a ampliação do déficit já não tem sido integralmente compensada por entradas de capital, elevando a vulnerabilidade a choques externos. Métricas usuais de sustentabilidade externa, como o basic balance — que soma o saldo em conta corrente ao investimento direto no país — vêm refletindo essa mudança. O indicador recuou de 1,9% em janeiro de 2024 para -0,3% do PIB, chegando a -1% quando ajustado pelas importações de criptoativos, retiradas da balança comercial após revisão metodológica no ano passado.
O gráfico desta semana apresenta a evolução de alguns dos principais componentes da balança de pagamentos em janelas móveis de 12 meses, evidenciando a transição de um quadro de resiliência para uma configuração que inspira maior cautela.
View of the Week é uma série semanal da Turim que, a partir de um gráfico, apresenta análises e reflexões sobre diversos tópicos relacionados à gestão de patrimônio, mercados, economia, história e tendências.